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terça-feira, 10 de novembro de 2015

A intransferível responsabilidade por sujar o #madeinbrazil

A campanha de boicote ao agronegócio de Mato Grosso do Sul, motivada pela violência crescente aos Guarani Kaiowá por parte de produtores rurais em situação irregular em Terras Indígenas, é uma pressão legítima em defesa da vida e de direitos. Resposta da sociedade à omissão do governo federal que permite o que se caracteriza como genocídio, é também uma ação de mobilização social propositiva de mudança que colabora para expansão da agropecuária sustentável no Brasil. Soja plantada em Terra Indígena invadida não é sustentável, carne de boi que pasta em Terra Indígena invadida e desmatada não é sustentável. Essa classificação não é inventada, resulta das decisões de gestão que carregam a responsabilidade por métodos socioambientalmente insustentáveis e com riscos econômicos e jurídicos. 

Da Anistia Internacional ao Ibase do Betinho, mais de 90 organizações já apoiam a iniciativa. Lançada em outubro pelo Conselho Terena e o Aty Guassú do Povo Guarani Kaiowá, a campanha de boicote ao agronegócio de Mato Grosso do Sul esclarece como irregularidades em Terras Indígenas sujam a imagem do Brasil no mercado internacional, que exige certificação de práticas em conformidade com aspectos ambientais e sociais, e representam uma ameaça à reputação do setor em avaliações de risco. Ataques a bala, assassinatos de lideranças, estupros, sumiços de jovens, tortura a crianças e idosos indígenas, incêndios, saraivadas de tiros para o alto são agravantes que marcam a produção agropecuária sul-mato-grossense em situação irregular, da qual empresários que investem na gestão de sustentabilidade no estado deveria se dissociar.
 
Quem prefere fazer gestão de problemas, e não de soluções, transforma a dependência das decisões do poder público em justificativa para insistir em irregularidades e para impor condições favoráveis a conflitos e violências condenáveis na justiça e na moral.  O empresário que monta sua equipe com capangas e dá a ordem para atirar em índios já decidiu que seus produtos não podem ser classificados como sustentáveis, muito menos certificados, para serem vendidos para EuropaEstados UnidosÁsia. É o preço a pagar que ele mesmo bota nos métodos arcaicos e tacanhos de gestão do seu negócio, e essa responsabilidade por sujar o made in Brazil é intransferível.
O caminho para um agronegócio sustentável no Brasil, ou em qualquer lugar do mundo, requer diagnósticos e adequações a critérios objetivos para as materialidades da cadeia produtiva, o que beneficia a economia, o meio ambiente e a sociedade. Como vendemos para o mercado externo, não é desconhecido, especialmente para os grandes produtores rurais, o conjunto de normas internacionais para as práticas ambientais, trabalhistas, sociais, de bem-estar animal e de gestão. A certificação exigida para exportação de produtos agropecuários brasileiros tem impactos positivos no mercado interno, então, também não são desconhecidas do setor as conformidades de sustentabilidade já adotadas por bancos e compradores.
 
Irregularidades em Terras Indígenas e desmatamento ilegal são práticas sem conformidade alguma com critérios e aspectos legais de sustentabilidade, inadmissíveis sob normas internacionais para certificação, financiamentos ou comércio. O empresário do agronegócio que mantém situação irregular em Terra Indígena cria e assume o risco de afetar negativamente a imagem da sua produção, do seu estado e do país, de arcar com possíveis prejuízos decorrentes dessa associação e até de comprometer o avanço de um modelo de economia que pressupõe ética e respeito, ou seja, é uma prerrogativa de gestão.
 
Não tem desavisado nessa história secular de bala contra flecha e árvore. Tanto que no capítulo Gestão do Guia de Práticas para Pecuária Sustentável do Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável [GTPS] é recomendado que o "empresário precisa ficar atento à presença de terras indígenas" e informado que qualquer "irregularidade envolvendo estas terras podem impactar diretamente as operações da propriedade". A pressão sobre bancos e frigoríficos é reconhecida como forma de combater irregularidades, com o alerta de que são evitados negócios com propriedades rurais em que ocorrem problemas ou com problemas associados a elas ou até próximos, tanto em relação a Terras Indígenas quanto ao desmatamento ilegal. Isso quer dizer que um único produtor fora dos conformes é capaz de prejudicar os outros e dar má fama à vizinhança que optou pela gestão sustentável de seus negócios. 

Sustentabilidade no agronegócio brasileiro faz diferença daqui para fora. Por isso, aliás, a aprovação da PEC215 deveria ser avaliada pelo setor como uma grave ameaça aos negócios internacionais em conformidade com práticas sustentáveis. Com a transferência da soberania do Estado sobre a demarcação de Terras Indígenas do executivo para o legislativo, o Brasil vai ser posicionado como um mercado em que sequer a Constituição é respeitada e no qual se oficializa o desrespeito a direitos para legalizar a produção fora de conformidade, o que é incertificável. A proposta é tão surreal que não mensura o tamanho da insegurança jurídica e o potencial de instigação e aumento de conflitos, ignorando que as consequências podem ser dramáticas [estamos falando de gente e perdas de vidas] e institucionalmente danosas ao país. Afinal, quem vai certificar a sustentabilidade de qual produto num lugar desses?

Só lembrando: Todas as Terras Indígenas deveriam estar demarcadas e homologadas no Brasil desde 1993, conforme a Constituição Federal.  

Já entendeu e quer se engajar?
. Segue o link para a página da iniciativa de mobilização no facebook
. Acesse os banneres da campanha com legendas em 3 idiomas em Eco Lógico Sustentabilidade http://bit.ly/CampanhaboicoteagronegocioMS

Quer saber mais sobre o contexto de violências contra os indígenas em Mato Grosso do Sul?
. Veja  o artigo “Os condenados dessa terra”, do Prof. Dr. Neimar Machado de Sousa, no Portal EcoDebate
. Leia a matéria da Carta capital “Omissão assassina no Mato Grosso do Sul - O governo e a Justiça têm culpa no conflito sangrento entre índios e fazendeiros”, de Rodrigo Martins, publicada em 09/10



Beatriz Carvalho Diniz
Consultora de Comunicação e Sustentabilidade, expertise em políticas públicas socioambientais, com especialização em Gestão Ambiental. Criativa de Eco Lógico Sustentabilidade, conteúdo produzido com amor, sem fins lucrativos, desde 2009.

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Retribua com amor toda vida que a natureza nos dá

Ouvir os passarinhos à tardinha, quando estão se juntando para seguir destino, nos ajuda a pertencer ao que está ao redor. Sim, pertencer, percebendo tudo que está vivo por aqui.
Mesmo que você não passe por aquela calçada com muitas árvores, os passarinhos que costumam frequentar aqueles ares vão continuar seguindo o instinto deles, cuidar de viver por ali.
Não estamos sozinhos num mundo cheio de vida, só fazemos de conta que apenas nós existimos, ignoramos a diversidade de seres vivos que nos acompanham na jornada de viver nesse mundo lindo. Destruindo ou não dando atenção, somos nós que perdemos com esse faz de conta, ignorando que fazemos parte da natureza.
Então, você pode passar naquela calçada com muitas árvores e largar ali a embalagem do biscoito que acabou de comer. Faz de conta que isso não é falta de educação nem falta de higiene da sua parte. Faz de conta que a embalagem não pode ser reciclada e é lixo. Faz de conta que nem vai entupir o bueiro e que a culpa vai ser da chuva quando alagar. Faz de conta que o único ser que existe é você ignorando fazer parte da natureza.
Ou você pode passar e perceber o frescor da sombra que as árvores ainda dão ao seu caminho antes que anoiteça, os passarinhos voando e cantando [que alegria!], o céu mudando de cor. E respirar por um instante essa inspiração. Cuide do seu mundo, do lugar em que você vive, dos ambientes em que passa, visita, com atitudes simples como não largar embalagens nas calçadas ou jardineiras.
Foto { Reunião na árvore, Lagoa Rodrigo de Freiras, Rio de Janeiro, 2015, de Beatriz Carvalho Diniz
[Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial 3.0 Brasil - Faça bom uso sem fins comerciais] 

sexta-feira, 17 de abril de 2015

"Depois dos índios, tem que limpar pros deputados, né?"

Pode ser de praxe, mas, pegou mal. E suscita sim, imediatamente, a associação com o fato de o presidente da câmara ser preconceituoso. Imagina o seu Cunha pegando o telefone, em seu gabinete [que imaginamos seja confortável e climatizado], e mandando o chefe do chefe do chefe da limpeza desinfetar imediatamente o lugar em que dezenas de índios estiveram. 
Mas, não devemos estimular pensamentos odientos. A força tarefa de 14 funcionários da limpeza deve ser usual, ainda que um deles tenha brincado e dito a frase que está no título: "Depois dos índios, tem que limpar pros deputados, né?"
Será que tem mesmo que limpar? Sim, tem, só que não para os deputados sentarem nas cadeiras higienizadas após a sentada dos homenageados. Tem que limpar é depois que levantam os assentos dos velhacos, espertos, canalhas, aboletados nas cadeironas de poder, esquemas, privilégios, mordomias, propinas. E para não fazermos desfeita aos raros representantes dos interesses coletivo, vamos usar uma expressão batida: tirando os que contamos nos dedos.
Pois bem, foi uma homenagem ao Dia do Índio [só lembrando, no 19 de abril] no plenário Ulysses Guimarães. Ahan... A melhor homenagem que os deputados federais poderiam fazer aos povos indígenas seria mandar para o beleléu a PEC 215. E, respeitando a Constituição de nosso país, desistirem de querer ter poder soberano sobre o que não cabe a eles e sim articular com a presidente a demarcação das terras, que deveria ter sido concluída em 1993. 
Nanci Silva nos lembra que os indígenas ensinaram os brancos europeus a tomar banho todos os dias. Então, se o seu Cunha ou o funcionário da limpeza ou nós tomamos banho todos os dias é porque pegamos dos índios. 
Sangue indígena corre em nossas veias, carregamos memórias ancestrais ainda que não saibamos ou teimemos em ignorar, trazemos costumes que são nossa história mesmo dando as costas. Adora futebol? Maracanã, cara pálida, é palavra indígena. Ama o Rio de Janeiro? Carioca é outra palavra indígena. Curte um bolinho de aipim com carne seca na feira? Aprendemos a lidar com a mandioca, adivinha... 
Segue o link para a matéria em Uol sobre a tal higienização { http://bit.ly/1FQov4v